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Territórios, alteridade e cultura em São Paulo: análise da inserção de bolivianos em bairros paulistanos

Palavras Chave:

Autores:

Fabio Pucci, mestre em Ciências Sociais pela PUCSP e doutorando em Ciências Sociais na UFSCAR

Maura Véras, livre docente em Ciências Sociais e professora titular de Sociologia da PUCSP. Bolsista Produtividade do CNPq

.Introdução

O presente relatório trata da inserção dos bolivianos, um dos grupos imigrantes mais presentes na cidade. Segundo o Censo Demográfico de 2010(IBGE), eram 21680 deles e representavam cerca de 14,4% do total de estrangeiros residentes em São Paulo, o segundo grupo estrangeiro mais frequente, proporção que parece estar subestimada, pois há tempos vêm chegando à capital, além de serem muitos indocumentados, de modo que não se tem controle sobre o total desses imigrados.

Muitos estudos têm sido realizados sobre esse contingente, em especial, no tocante a sua participação em oficinas de costura e nas condições problemáticas de trabalho e moradia.(entre outros, SILVA,1997; XAVIER, 2010;PUCCI, 2011, 2013, 2016) Os objetivos da análise aqui oferecida são acompanhar e desvendar a territorialidade dos bolivianos em São Paulo, as relações de alteridade para com a sociedade receptora, e expressões culturais dessa presença.

Inicialmente, a análise se vincula às discussões conceituais sobre temas fundantes da pesquisa, como território, alteridade, lugar. Em seguida, de acordo com os eixos analíticos eleitos para a pesquisa comum, a inserção dos bolivianos em cada um desses temas.

Preliminarmente a discussão sobre a pertinência da categoria território. Em que pesem seus diferentes significados ou, nos termos de Carvalho(2017) seus deslizamentos conceituais, a noção de território é muito cara aos que se dedicam aos estudos urbanos, e vem ganhando contornos ligados à questão do direito à cidade, ao lugar, carregado de identidade e formado por fluxos da população, seus itinerários e cultura, eventualmente etnia..(VÉRAS, 2003, 1998,SANTOS,1997 e outros.)

São noções correlatas, portanto, mancha, pedaço, enclaves étnicos. Nesse sentido, a presente investigação relaciona tais conceitos em cada eixo analítico. Adianta-se, contudo, que os territórios presentes neste estudo referem-se basicamente aos locais de moradia/trabalho dos bolivianos, notadamente bairros centrais de São Paulo, como o Brás, o Pari, o Bom Retiro, em que é notória a concentração e a presença de confecções, além da realização da feira semanal na praça Kantuta, no Canindé.. Mais recentemente, nota-se a presença dessa imigração em outros pontos da cidade, mais periféricos e selecionou-se o bairro do Grajaú, a sudeste do município, para descobrir quais diferentes estratégias de inserção, diferenciadas das conhecidas nos bairros anteriormente citados. .

A presença cultural boliviana nas festas, restaurantes, feiras, por sua vez, também estudadas e conhecidas, marcam tais territórios e lugares com certas características que serão aqui debatidas. .

Procedemos a exposição segundo eixos analíticos, aproximando alguns temas. Assim, foram organizados os seguintes aspectos, por eixos analíticos:

1.Ocupação cultural do espaço urbano

2.Etnicidade e alteridade: discriminação e estigmatização

  1. Conceitos de referência

1.1.Território

Na cidade capitalista, o espaço dos trabalhadores, além de sua moradia, está quase que exclusivamente delimitado aos espaços de circulação em direção à jornada de trabalho – deslocamentos pendulares – e quando em seu tempo de descanso, na cidade desigualmente dividida, não têm os equipamentos culturais e educacionais à sua disposição. E se a moradia for precária, e como é o caso da habitação combinada ao local de trabalho dos bolivianos, seu território representa esse espaço em que mora, trabalha e convive com conterrâneos, patrões, vizinhos, muitas vezes em coabitação involuntária nos cortiços. Mesmo assim, representa o seu lugar, uma ponte que o protege da sociedade mais ampla, onde há um endereço, alguma identificação, o lugar de contingência mas também de pertinência. Grande referência neste conceito é M. Santos(1978)

1.2.Alteridade

Os psicanalistas e psicólogos sociais destacaram a importância da figura do “outro” como constitutivo de nossa própria identidade, mas foram acompanhados pelos marxistas quando retomaram uma nota de rodapé no primeiro capítulo de O Capital, em que Marx chamou a atenção para o espelhamento, ao falar sobre a mercadoria e qual o critério de saber como trocar produtos diferentes, baseados no valor trabalho nessa comparação. Diz a nota que acontece com o ser humano o mesmo que com a mercadoria que precisa de um equivalente para descobrir o seu valor. O homem não vem ao mundo dotado de espelho e precisa de seu semelhante para saber quem é. Assim, nossa formação do “eu” passa por saber como os outros nos veem e pelo grupo de que fazemos parte. A alteridade assim vista é positiva, mas quando ela se refere ao outro distante, aquele que é o “não nós” aquele que não queremos ser, por diferença de cor, caracteres físicos, de renda ou lugar de moradia, é utilizada para segregar, afastar, discriminar.(Jodelet, 1998;Veras, 2003)

2. Aportes metodológicos

O desafio de indicar metodologicamente o percurso desse subprojeto de pesquisa se equaciona ao admitir que as ações e procedimentos adotados têm a intenção de atingir os alvos epistemológicos pretendidos. Tais objetivos são abordar a inserção de imigrantes bolivianos no mercado de trabalho na metrópole, suas condições de moradia, espaços de lazer e cultura, o que se afigura como suas territorialidades e, sobretudo, como vivem as relações com a sociedade que os recebeu, notadamente se desenvolvem situações de alteridade radical, em processos de discriminação ou estigmatização. Desse ponto de vista, assim, qual a permeabilidade e quais fronteiras se estabelecem entre imigrantes, seus pares, e com seus vizinhos, patrões, colegas brasileiros?

Todo percurso metodológico significa, pois, relacionar conceitos teóricos e operacionalizá-los, correlacionando epistêmica e empiricamente por meio de indicadores que nos parecem portadores das direções cognitivas adequadas. Está-se investigando realidades sociais dinâmicas e territorialidades, fronteiras, espaços de convivência determinados por fluxos de pessoas. A iniciar-se pelo fluxo imigratório que, por si, reveste-se de amplo e complexo significado em tempos atuais de globalização financeira, de empresas e população. Nesse sentido, situar-se no espaço urbano e social, é processo multifacetado, para qualquer cidadão, e determinado por aspectos econômicos, étnicos, culturais, e ainda a depender de políticas públicas seletivas ou inclusivas.

Para o estrangeiro provindo da Bolívia essa inserção representa ser aceito nas oficinas de costura, ter documentação, contar com a rede de conterrâneos a lhe oferecer apoio ou indicações de trabalho e moradia, poder comparecer à festa onde falará sua língua e viverá traços de sua cultura andina.

A metodologia para acompanhar esse percurso, pois, deve iniciar-se pelos dados censitários disponíveis sobre o contingente pesquisado. Mesmo conhecendo os limites dessa fonte, pois um recenseamento não consegue apropriar-se de todos os estrangeiros residentes, se há muitos indocumentados, clandestinos e não se tem o universo conhecido. Contudo, como ponto de partida é importante conhecer quantos são e onde estão pelos dados oficiais disponíveis. Para detectar se há concentração deles em distritos da capital, proceder a exame das estatísticas em termos médios da presença boliviana em cada um dos distritos e aqueles que apresentarem índices superiores à média geral, são indicativos de alguma territorialidade. As âncoras desse território são casa e trabalho

Essa cartografia possibilita a localização de endereços e dar início ao trabalho qualitativo de selecionar entrevistados, a situação vicinal bem como identificar espaços de cultura e lazer. A percepção das relações de alteridade, de interculturalidade, são realizadas também entrevistando os não bolivianos, vizinhos, patrões, conhecidos, enfim, brasileiros que com eles têm contato, mediante roteiro de questões dirigido aos alvos pretendidos, das relações de tolerância, aceitação, rejeição.

O território é, pois, espaço vivo, e para ser compreendido deve ser visto a partir de seu uso, de sua importância para os sujeitos que nele habitam, trabalham ou participam de festas, cerimônias, rituais, enfim, que dele se utilizam. Também as políticas públicas, em especial as de saúde, são territoriais, portanto a pesquisa objetivou conhecer como os atores e usuários desse espaço interpretam sua vida no território e são atendidos pelos órgãos da saúde. No caso de acesso a políticas de saúde, foi acompanhado o atendimento de agentes de saúde em postos de saúde, basicamente no território marcante que foi o bairro do Brás, em São Paulo

A vivência cultural se explicita em outro território, como a Feira da praça Kantuta, cujo nome é de uma flor que simboliza a Bolívia, evento semanal que se realiza no Canindé e que deve merecer do investigador o mesmo recurso das entrevistas como também um olhar etnográfico, percebendo sons, músicas, o ouvir de diferentes línguas faladas pelos participantes como o quíchua, o português, o espanhol, odores dos pratos típicos como o chicharron, salteñas, salchipapas e a visão dos tecidos coloridos artesanais e as texturas de lã ou alpaca que nos lembrarão do ambiente andino.

De posse dessas ferramentas e técnicas de abordagem, foi possível o registro dos depoimentos dos atores/sujeitos pesquisados, suas vozes em momentos de alegria, queixas e dificuldade e até em novos projetos.

3.Bolivianos em São Paulo: territórios, alteridade, cultura

3.1. Ocupação cultural do espaço urbano

O impacto da cultura boliviana está cada vez mais presente entre nós e pode ser notado em alguns bairros da sede metropolitana paulista como o Bom Retiro e o Pari. Alguns restaurantes, feiras e a Praça da Kantuta aos domingos são exemplares e ainda as festas religiosas em agosto, no Memorial da América Latina, dão grande visibilidade a essa “comunidade étnica”. O fato de estarem, de certa forma, individualizados, não integrados à sociedade mais ampla, deve-se, em grande parte, à centralidade que o trabalho tem na vida destes imigrantes (SAYAD, 1998). Portanto, cabe a pergunta: Até que ponto os bolivianos voluntariamente se fecham a qualquer contato com a sociedade receptora? Não seria, ao contrário, a própria condição de imigrante que o leva ao isolamento?

A permeabilidade maior ou menor de grupos de estrangeiros faz resgatar a discussão sobre os “enclaves étnicos”. Segundo Azevedo e Cacciamali, “o emigrante é conduzido de seu local de origem para um enclave étnico, onde é encerrado entre seus pares.” (CACCIAMALI; AZEVEDO, 2006, p.7). Segundo Cymbalista & Xavier, é outro o ponto de vista: “Em nenhum ponto da cidade os bolivianos concentram-se a ponto de constituir um gueto, nem mesmo um enclave étnico de menores proporções.” (CYMBALISTA & XAVIER, 2007, p. 122). Sidney A. da Silva vai nessa mesma linha ao acreditar não haver um enclave étnico dos bolivianos em São Paulo, pois “há, sobretudo no Bom Retiro uma mistura. Uma diversidade bastante considerável de grupos étnicos.” (informação verbal)[1].Evocando a posição de Magnani (1984; 2002) que distingue os conceitos de “pedaço” e “mancha”, Silva afirma que:

Há sim como você usa, as categorias “mancha” ou “pedaço” do Magnani. “Mancha” poderia ser. Então nesses três bairros centrais daria pra dizer que há uma “mancha” boliviana. Ou seja, “mancha” partindo da ideia das instituições, das organizações, dos espaços de lazer, nesse sentido que o Magnani trabalha. (informação verbal) [2].

A categoria “pedaço” tem dois elementos. O primeiro é de ordem espacial e é determinado por certos equipamentos como bares, lanchonetes, campos de várzea, etc. O segundo é de ordem social e envolve a rede de relações sociais existentes em um determinado espaço. O segundo elemento é determinante no momento de se definir quem é e quem não é do pedaço. Segundo o autor, “para ser do ‘pedaço’ é preciso estar numa particular rede de relações que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência” (MAGNANI, 1984: 137). Portanto, é essencial a noção de pertencimento para se compreender a lógica do “pedaço”. Não se pertence a um “pedaço” apenas por frequentar um bar, uma boate ou um barbeiro. Para ser do “pedaço” é preciso ser reconhecido enquanto tal na rede de relações sociais.

O termo na realidade designa aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade. (MAGNANI, 1984, p. 138).

O “pedaço” faz a mediação entre o pertencimento dele e à sociedade de um modo mais abrangente. É um espaço constitutivo de relações, de significados. Além disso, é onde se desenrola toda a trama do cotidiano. São nesses espaços que as pessoas aproveitam para conversar, trocar informações, desfrutar o tempo livre etc. O “pedaço” é uma categoria que surgiu em pesquisa (MAGNANI, 1984) sobre o lazer, realizada na periferia de São Paulo. Mas, gerou-se a dúvida see quando uma pesquisa é realizada no centro da cidade, onde as relações são, em geral, de impessoalidade, esta categoria ainda se aplicaria?

Magnani afirma que há, sim, “pedaços” reconhecíveis no centro da cidade, mas que em alguns lugares de encontro de lazer havia uma diferença que não permitia a aplicação desta categoria. Sobre tal diferença diz :

[…] aqui, diferentemente do que ocorria no contexto da vizinhança, os frequentadores não necessariamente se conheciam – ao menos não por intermédio de vínculos construídos no dia-a-dia do bairro – mas sim se reconheciam como portadores dos mesmos símbolos que remetem a gostos, orientações, valores, hábitos de consumo e modos de vida semelhantes. (MAGNANI, 2002, p. 22, grifo do autor).

Além disso, havia muitas pessoas frequentando esses lugares que buscavam o mesmo efeito que se encontra no “pedaço”, ou seja, o fortalecimento de laços. Segundo Magnani, a base física desses lugares precisa ser mais ampla, pois deve permitir a circulação de muitas pessoas de vários lugares diferentes. Estes espaços são as “manchas” que ele define como:

[…] áreas contíguas do espaço urbano dotadas de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam – cada qual com sua especificidade, competindo ou complementando – uma atividade ou prática dominante. (MAGNANI, 2002, p. 22).

Um exemplo de “mancha” seria um espaço onde há muitos equipamentos que oferecem um mesmo objetivo. Podem ser cinemas, espaços públicos com música ao vivo, food trucks, cafés e bares no caso de equipamentos de lazer. Eles podem competir ou se complementarem, mas constroem um ponto de referência, constituído por equipamentos que se complementam ou competem entre si. Um lugar onde há restaurantes bolivianos, espaços de lazer, cabeleireiros e uma unidade consular onde se podem retirar documentos, por exemplo, forma uma “mancha boliviana”. É um lugar que, no caso, se torna referência para os bolivianos que vivem em São Paulo.

A diferença do “pedaço” para a “mancha” é que o primeiro se define pelo pertencimento, ou seja, pela rede de relações entre os seus membros, que possuem regras, códigos e símbolos em comum. Um “pedaço” pode mudar de ponto, quando essa rede de relações também migra; quando se vai ao “pedaço” já se sabe quem vai encontrar, são pessoas com quem se compartilha um mesmo referencial simbólico

No caso das “manchas” há lugar para o imprevisto. Sabe-se que vai encontrar alguém ou alguma coisa, mas não se sabe quem nem o que. Enquanto a “mancha” se define por um conjunto de estabelecimentos, ela é mais estável, frequentada por muitas pessoas, que não necessariamente são conhecidas, mas se reconhecem pelos estilos adotados. Enfim, a “mancha” é uma referência espacial, enquanto o “pedaço” é simbólico.

A principal diferença, segundo Magnani (2002) entre as duas categorias é que no “pedaço” as pessoas se conhecem e nas “manchas” as pessoas se reconhecem “como portadores dos mesmos símbolos que remetem a gostos, orientações, valores, hábitos de consumo e modos de vida semelhantes.” (MAGNANI, 2002, p. 22, grifo do autor).

Segundo Sidney da Silva, é preciso relativizar se há realmente “pedaços” bolivianos na cidade de São Paulo:

. A idéia do “pedaço”, não sei. Talvez na praça Kantuta, que é um “pedaço” intermitente. Só funciona fim de semana, só no domingo? É, só no domingo. A rua Coimbra é também um “pedaço” boliviano no Brás. No Bom Retiro também tem um ali na Anhanha. Parece que também há. Recentemente estão fazendo uma feirinha na Ananha, no Bom Retiro. Quando sê passa perto da Luz já. Então eu acho que ai talvez as categorias possam dar conta dessa questão. Mas precisa analisar com mais cuidado. Que nesse caso são “pedaços” que são na verdade, como eu disse, intermitentes. Eles não são… aquele “pedaço”, a idéia que o Magnani trabalhou lá do bairro, onde as pessoas se encontram, onde as pessoas se conhecem, quem é de dentro e quem é de fora, essa é a idéia que o Magnani trabalha do “pedaço”. (informação verbal) [3].

Tanto a feira na Praça Kantuta quanto na Rua Coimbra são importantes espaços de sociabilidade dos bolivianos. Na primeira encontram-se comidas típicas( o chicharron, salteñas ), artesanato, cabeleireiros, CDs de música, tarjetas para ligar para a família na Bolívia, empresas que oferecem serviços de remessas, passagens de avião, festas típicas, um locutor que anima a feira, música boliviana, pastores. É um espaço frequentado por milhares de pessoas, não só bolivianos, mas também brasileiros curiosos por essa cultura. Portanto, com certeza trata-se de uma “mancha boliviana”, pois se trata de uma referência espacial na cidade com determinados equipamentos que se complementam e competem entre si tendo como referência um determinado público. Além disso, sabe-se que é um espaço frequentado por imigrantes bolivianos, mas dificilmente sabe-se que se irá encontrar ali. Ou seja, a Praça Kantuta é frequentada por muitas pessoas, que não necessariamente se conhecem, mas se reconhecem por seus estilos.

A vivência cultural se explicita, pois, em outro território, a Feira da praça Kantuta, cujo nome é de uma flor que simboliza a Bolívia, evento semanal que se realiza no Canindé e que deve merecer do investigador um olhar etnográfico, percebendo sons, músicas, o ouvir de diferentes línguas faladas pelos participantes como o quíchua, o português, o espanhol, odores dos pratos típicos e a visão dos tecidos coloridos artesanais e as texturas de lã ou alpaca que nos lembrarão do ambiente andino.

A Rua Coimbra também constitui uma “mancha boliviana”, pois tem restaurantes, feira, unidade consular e está muito próxima de escolas onde estudam muitos bolivianos, bem como de hospitais que atendem aos bolivianos.

Entretanto, talvez estes espaços não formem “pedaços”. Há, entretanto, um espaço cultural dos bolivianos que se assemelha mais aos “pedaços” do que às “manchas”. É o caso, por exemplo, dos grupos de bolivianos que se reúnem para ensaiar as suas danças folclóricas e depois se apresentarem na Praça Kantuta ou na comemoração da independência da Bolívia, realizada nos meses de agosto no Memorial da América Latina. O Grupo Folklórico Kantuta Bolívia é um exemplo de “pedaço”, pois os seus membros se identificam pela categoria do pertencimento, pela rede de relação entre seus membros, que possuem regras, códigos e símbolos em comum. Em pesquisa de campo junto a esse grupo, em 2015, observou-se que a diretoria exigia maior comprometimento de seus jovens com os ensaios, realizados aos domingos no bairro do Pari. Ora, esse tipo de exigência e sua contrapartida (o comprometimento por parte dos jovens que ensaiam) só podem ocorrer em um espaço onde as relações sociais se baseiam na noção do pertencimento. Ou seja, só podem ocorrer em um “pedaço”, e não em uma “mancha”.

O Grupo Folklórico Kantuta Bolívia tem como objetivo apresentar danças típicas da Bolívia como o Caporales, Cueca Cochabambina, Tinkus, Morenada e Diablada. Este foi o primeiro grupo fundado de danças folclóricas bolivianas no Brasil, criado em 1987 (MIRANDA, 2012).

A pesquisa de Pucci(2016) junto a este grupo, deu-se a revelar que as roupas que eles usam são bordadas na Bolívia e custam cerca de 400 dólares cada para serem trazidas de lá. É interessante a competitividade que têm com outro grupo de dança, o qual eles afirmam não ter valor e ser muito rigoroso. Enquanto no Grupo Folklórico Kantuta estão os filhos de costureiros, no outro grupo competidor estão as pessoas já formadas em medicina, direito, engenharia, entre outras profissões liberais. As bandas que se apresentam com esses grupos também são contratadas da própria Bolívia, assim como as roupas usadas pelos dançarinos.

Figura 1: Jovens do Grupo Folclórico Kantuta Bolívia ensaiam dança folclórica boliviana(Pucci, 2016)

Figura 2: Jovens do Grupo Folclórico Kantuta Bolívia ensaiam dança folclórica boliviana(Pucci, 2016)

É interessante notar que pessoas das mesmas famílias às vezes pertencem a esses grupos que competem entre si. Assim, pode-se dizer que formam “estamentos”, na acepção de Weber (1967), que, nesse caso, têm uma interpenetração com as classes sociais (no Grupo Folklórico Kantuta Bolívia estão geralmente os filhos de costureiros, enquanto no grupo rival dançam, geralmente, os filhos de bolivianos profissionais liberais). O Grupo Folklórico Kantuta reúne pessoas mais jovens, de 16 a 25 anos. Muitos deles são filhos de costureiros bolivianos, mas que estudam em universidades. Quando se formam, muitos deles vão procurar outros grupos de dança. São poucos os que continuam.

Figura 3: Jovens do Grupo Folclórico Kantuta Bolívia ensaiam dança folclórica boliviana(Pucci, 2016)

O que interessa aos jovens que dançam nesses grupos é o prestígio e a honra (o pertencimento) de ser parte daquela agremiação. Como já mencionado, presenciou-se um dos diretores do grupo cobrando maior empenho dos mais jovens, principalmente dos garotos, dizendo que deviam se focar em fazer um bom trabalho e representar o grupo. Observou-se, além disso, que eles têm um estilo de vestir-se e de dançar, o que mostra que possuem “estilos de vida especiais” (WEBER, 1967). Ou seja, são estratificados de acordo com os princípios de seu consumo de bens, tal como é representado por “estilos de vida especiais”. Assim, os grupos investem muito dinheiro nas roupas bordadas na própria Bolívia (roupas que trocam todo ano). É de se imaginar que quanto mais elaborada a roupa, maior o prestígio do grupo. Também traz prestígio se o grupo traz alguma banda da Bolívia, ou apresenta até duas bandas: uma daqui e uma de fora. Fato é que a estratificação se dá com base nesse consumo, mais do que pelas classes sociais a que pertencem esses bolivianos.

Figura 4: Diretor do Grupo Folclórico Kantuta Bolívia (em 2015) e mais três membros ensaiam (Pucci, 2016)

Por fim, é notável que um costureiro que recebe em média R$ 1.200,00 por mês (dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE) invista R$ 1.000,00 anualmente para cada filho que participa desses grupos. Se isso ocorre, é porque nesse caso a honra e o prestígio são mais importantes do que o fator econômico, o que reforça a ideia de que se trata de um “estamento” , nos termos weberianos.

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3.2: Etnicidade e alteridade:discriminação e estigmatização[4]

O território é um dos aspectos fundamentais da vida de um imigrante. Ele se constitui em uma “ponte” (WACQUANT 2004 apud SILVEIRA, 2014) para o imigrante, ou seja, em “espaços de permanência e simultaneamente de passagem dos imigrantes que promovem sua adaptação às novas condições de vida em outro meio social” (SILVEIRA, 2014, p. 97). São nesses espaços que o imigrante encontra acolhida e aprende elementos da vida local, como a língua portuguesa, o acesso aos serviços sociais (como saúde e educação) e a formação de redes para inserção no mercado de trabalho.

As “redes sociais” e “cadeias migratórias” desempenham importante função na integração dos imigrantes recém-chegados. Segundo Truzzi, “cadeia migratória” pode ser definida como “o deslocamento de indivíduos motivados por uma série de arranjos e informações fornecidas por parentes e conterrâneos já instalados no local de destino” (TRUZZI, 2011, p. 20). A fala de uma boliviana entrevistada resume bem a importância das cadeias migratórias na acolhida dos recém-chegados:

É assim, tendo a confiança de que tem uma pessoa lá [no Brasil], e vai vindo. Eu vim com meu esposo. Meu esposo veio pela irmã. A irmã dele veio porque a tia dela veio. Não é que a gente vem a deriva, assim, “ah, eu vou no Brasil e ver o que acontece comigo”, não. É isso que uma brasileira falou assim pra mim: “vocês bolivianos vêm porque sabem que aqui vão ser bem recebidos.” “Não, a gente não vem porque a gente sabe que os brasileiros vão receber bem a gente.” A gente vem porque tem um boliviano que vai dar casa pra gente. Senão a gente não viria, porque a gente tem medo, não fala português, não fala nada. Então, um boliviano trás o outro. E essa é a cadeia de migração. (Maria, Boliviana, modelista, há 15 anos no país, moradora do Brás).

Maria revela a importância de haver outro boliviano conhecido no Brasil antes de tomar a decisão de migrar. Em um primeiro momento o desconhecido deixa o imigrante receoso de sua vinda. Então, ele opta pela familiaridade dos seus conterrâneos enquanto se adapta ao país de destino. Entretanto, esses territórios bolivianos nem sempre oferecem apoio aos bolivianos e não raras vezes dificultam a integração desses imigrados à sociedade receptora. É um fenômeno já discutido pela Escola de Chicago, quando afirmava que a mesma colônia que acolhe ao imigrante também o aprisiona. Isso ocorre, por exemplo, quando os bolivianos já estabelecidos no país se aproveitam de seus compatriotas recém-chegados:

Em verdade, se você tem alguém, alguma pessoa conhecida, alguém da família que já mora aqui no Brasil há mais tempo, você pode ter informação de fazer tudo legal e de fazer tudo direito. Mas se você chega e você não tem onde morar, não conhece ninguém, não tem a comida, então você vai procurar gente de seu país. Então, procura nas colônias bolivianas, onde tem um monte que precisa de costureiro, precisa de trabalhador. Então oferecem pra você pagar, “eu vou pagar por terminar essa peça, por fazer essa peça, um real, ou cinquenta centavos de real”. Porque você precisa onde morar e precisa que comer, então você vai ficar aí no trabalho, vai aceitar a proposta, mesmo que fossem dez centavos por peça, a necessidade obriga pra você ficar trabalhando. E você não conhece ninguém. Então por isso você termina fazendo o que eles querem. E eles terminam explorando o próprio compatriota boliviano. É assim que acontece. A realidade. (Estela, Boliviana, Médica, há 3 anos no país, Brás)

Estela apresenta muito claramente esse paradigma dos territórios bolivianos (que se aplica à maior parte dos grupos de imigrantes em diversos tempos e lugares). Ela diz que o boliviano que chega sem conhecer ninguém no Brasil não precisa se preocupar, pois certamente será acolhido em alguma “colônia boliviana”. Não faltarão compatriotas precisando de costureiros para trabalhar e oferecendo um lugar para esse recém-chegado morar. A contrapartida, entretanto, é que ele não terá escolha e deverá trabalhar por um salário muito baixo. Muitas vezes, também, estará abrindo mão de sua liberdade, pois alguns donos de oficinas retêm os documentos de seus funcionários (e alguns chegam até a trancar as oficinas para que não fujam).

A presença boliviana no ramo da costura, portanto, tem claramente uma dimensão étnica e cultural (SILVA, 1997). Há um nicho étnico que faz com que seu acolhimento se dê mais facilmente, embora não esteja isento do paradigma já apresentado.

Entretanto, o fato de os bolivianos possuírem um marcador fenotípico – que denota sua origem indígena – acaba por produzir segregação. Marques (2005) afirma que segregação significa separação e desigualdade de acesso. Como se disse anteriormente, os bolivianos estão segregados do mercado formal de trabalho e imobiliário e do acesso aos serviços de saúde. Discute-se, a seguir, o papel dos marcadores fenotípicos na produção da segregação.

É possível perceber que alguns elementos da cultura boliviana são utilizados para desqualificar os imigrantes bolivianos, sendo o principal deles a questão da bebida, elemento esse muito presente nas festas e feiras bolivianas.

No bairro do Brás, as principais censuras que os vizinhos brasileiros fazem aos imigrantes bolivianos são a de que eles bebem muito, brigam entre si, sujam as ruas e trazem bandidos para a região. Todas essas censuras se dão pelo fato de haver uma feira aos sábados na Rua Coimbra.

Tanto que aqui, aqui que tem a feira sábado e domingo. Após a feira, há muita discussão, bebidas, porque eles trabalham muito, mas também eles gastam muito com bebida. É o único meio de diversão que eles têm é a bebida. Então, eles varam a madrugada nessa rua até de manhã, na bebida. Gastam, compram, mas a qualidade de vida deles é muito inferior, porque o que eles ganham eles gastam. Tudo no bar, no bar. (…) E há outro teor de bebida lá também, é a mesma coisa ela falou [sua amiga boliviana]. Como agente vê aqui é lá, ela falou. Tudo bem comer na rua, beber, eles são trabalhadores. Mas pra beber eles são muito, alto teor de bebida. Muito, e muita briga. Eles brigam, se matam entre eles. Já houve casos aqui de achar um morto, assim, sabe? Eles mesmos se matam, se esfaqueiam, muita guerra entre eles mesmos. Por causa de quê? Da bebida. (Denise, comerciante brasileira no Brás)

Bom, vou falar aqui da feira, que é o que eu conheço, né? Que de dia de sábado essa feira é… Começa por volta da uma, duas da tarde e… Não tem hora pra acabar, e… Depois que passa das sete, oito horas, aqui é uma pouca vergonha e… Eles transam aqui na rua. O horário que for, eles tiram pra fora, mijam na rua na frente de qualquer pessoa, e… Ficam muito bêbados, brigam muito, de facada. Isso é constante, toda semana, e… Que mais… Depois que passa esse horário, as crianças, não tenho noção da idade, mas aparenta serem crianças de sete, oito anos, começam a roubar eles aqui de faca, crianças brasileiras, né? Então, aqui eu acho uma pouca vergonha, aqui. (Eliza, vizinha do Brás, há dez anos no bairro).

É assim moço. Se for assaltado, se pelo menos reage, eles não conseguem agir porque eles tão sempre bêbados. Passa aqui pra fazer essa pesquisa amanhã à tarde. À tarde não, amanhã à noite. Nossa, já vi nego pegar boliviano aqui dentro, falando que era pra assaltar não, pegar aqui dentro. Mas também os caras vivem bêbado. Sê fala pro cara: levanta e dá a carteira, o cara dá e continua dormindo. (Gabriel, vizinho do Brás, há três anos no bairro).

É a sujeira que a rua tem. Eles fazem comida na rua. Outra coisa, eles são assaltados constantemente pelos brasileiros, porque aqui se formou uma quadrilha que roubam esses caras. Eles de noite bebem demais porque eles não têm outro divertimento. E nessa… Sábados de noite eles ficam aí enchendo a cara, depois sai na rua e deixam eles pelados. Sem roupa nenhuma. Isso é o mau. Eles trouxeram os bandidos para cá. Porque os bandidos sabem com quem rouba. E não pode gritar nada, porque eles até agora eles não tiveram, assim, liberdade, como qualquer brasileiro. Agora sim, depois que o Lula mandou naturalizar essa gente. Agora, eles tão ficando os donos da rua. (Marcondes, Vizinho brasileiro do Brás, aposentado, há 30 anos no bairro).

Ai meu deus, todo dia… Todo dia que eles fazem a maior farra, bagunçam e brigam, quebram garrafas, bebem, se jogam no chão aqui. Vêm outros, talvez brasileiros, sei lá, roubam eles. Eles tiram anel. É uma miséria. Não dá, depois das seis horas, não dá pra gente abrir o portão sem… Quando já é sábado, domingo, é uma pouca vergonha. Fizeram banheiro aqui nessa costa da… Fizeram um banheiro porque eles vão aí no restaurante ou nos bailes, que tem dois salões de bailes e cobram um real para ocupar. Aí vem todo mundo aqui. Às vezes tem seis, sete, dez homens tudo encostado aí na parede. E que é uma vergonha. Eles não respeitam mulher, não respeitam criança, não respeitam ninguém. E a sujeira que causa. (Iara, vizinha do Brás, há 45 anos no bairro).

Esses episódios de brigas com facas, segundo uma comerciante brasileira, já resultou inclusive em uma morte. Os donos de bares da região, inclusive, pararam de vender bebida alcoólica aos bolivianos nos dias de feira, com o intuito de evitar confusões em seus estabelecimentos comerciais. Há bolivianos, inclusive, que concordam que seus compatriotas bebem demais:

Boliviano é bom ter amigo. Mas os costumes dos bolivianos não são muito saudáveis. Você vai lá no centro, você encontra muita (…). A cultura dos bolivianos é a bebida. E eu não concordo muito com isso. A bebida destrói a família, o lugar, o organismo. O meu pai morreu por causa disso, consequência da bebida. Então, eu não tenho muito gosto por isso. Beber socialmente, uma ou duas cervejas. Mas os bolivianos têm o costume de beber até cair. Isso não é bom para a vizinhança. Na minha rua eu sou respeitada. Se tem outra pessoa fazendo o contrário de mim, aí não (…). Eles bebem, eles fazem barulho, desrespeitam as pessoas. E aí você fica mal [perante os olhos da vizinhança], junto com eles [os bolivianos baderneiros]. Generaliza. Já não é só eles. É você também. (…) A gente não vê isso [no Grajaú]. Lá [no centro] tem muitos bairros, muitas festas, você vê mais isso. Aqui não muito. Aqui só tem o futebol. E só no final de semana. Então você não percebe muito. Mas lá no centro é todos os dias. (Berenice, Boliviana, costureira, há 17 anos no país, moradora do Grajaú)

Berenice afirma que todos os bolivianos são taxados de baderneiros e bêbados, mesmo aqueles que não bebem. O preconceito se generaliza para qualquer indivíduo que possua fenótipo parecido com o dos bolivianos, ou ainda um sotaque semelhante. A entrevistada afirma que esse tipo de generalização ocorre mais no bairro do Brás, onde há feiras todos os sábados. No Grajaú, onde ela mora, os vizinhos praticamente não associam os bolivianos com o consumo excessivo de bebidas, nem com as brigas.

Há bolivianos também que reforçam o discurso dos brasileiros:

Eu entendo eles [os vizinhos brasileiros], em certa parte. Algumas vezes, como eu disse. Os bolivianos são bem mal vistos. Eles bebem, enchem a cara e ficam ali… às vezes até se comportam como mendigo. Fazem suas necessidades na rua. Ficam jogados. Perto da Coimbra existe um exemplo pelo menos. É uma rua bem suja. Eu sendo boliviano, eu não gosto de ir lá. Mas o pessoal que vem pra cá, a maioria, até um ano atrás mais ou menos, era maioria tudo do, do interior da Bolívia. Então, o pessoal não respeita mesmo. E, em certa parte eu entendo que sejam preconceituosos. (Jairo, Boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

Jairo adota o posicionamento do grupo favorecido, no caso os brasileiros. Ele reforça a noção de que os bolivianos agem como baderneiros e, por isso, merecem o tratamento que recebem dos brasileiros. Ele inclusive procura se dissociar dos bolivianos baderneiros, afirmando que estes seriam bolivianos provindos do interior da Bolívia, diferente dele, portanto. Como a estigmatização contra os bolivianos é muito forte, alguns bolivianos interiorizam a ideia de que são outsiders (ELIAS & SCOTSON, 2000) e, portanto, humanamente inferiores aos estabelecidos, no caso os brasileiros. Ao interiorizar essa ideia, acabam reforçando o discurso dos estabelecidos, procurando dissociar-se individualmente do grupo dos bolivianos. Entretanto, o fenótipo de Jairo faz com que ele sofra com o preconceito nas ruas, não importando se seu discurso é ou não a favor dos brasileiros.

Além do preconceito em relação às manifestações culturais dos bolivianos, também é perceptível a discriminação nas escolas, creches e postos de saúde. Os bolivianos são acusados de tomar o lugar dos brasileiros nesses serviços. Além disso, sofrem com o preconceito e o estigma dos colegas:

Pesquisador: E você falou bastante da sua filha, o que você deseja para os seus filhos no futuro?

Entrevistada: Pra minha filha. Que ela seja aceita. Que ela se integre nessa sociedade. Ela é brasileira, pelo amor de Deus, discriminada em seu próprio país. Porque chamam a minha filha de boliviana. Bom, despectivamente [pejorativamente]. Minha filha é linda, é meiga, é tudo, inteligente. Aí falam, “você é muito linda, mas você é boliviana, né”. Aí minha filha vem assim, pê da vida, como falam. Fala, “mãe, eu não sou boliviana e o pessoal fala que eu sou boliviana”. “Então, tudo bem. Você tem vergonha de ser boliviana?” “Mas eu não sou boliviana”, ela disse. “Tudo bem filha, mas você é descendente de bolivianos, você não tem que sentir vergonha. Da próxima vez você fala: sou brasileira igual que você”. (Maria, boliviana, modelista, há 15 anos no país, Brás).

Maria relata que sua filha é chamada de “boliviana” pelos colegas brasileiros, apesar de ser brasileira também. Isso revela até que ponto o fenótipo é um fator importante na discriminação, que se opera pelos estereótipos, o que também ocorre com descendentes de orientais nascidos no Brasil. O estereótipo “nasce de uma caracterização grosseira, rápida e indiscriminada do grupo estranho; este é dito em poucas palavras, é reduzido a poucas qualidades que são ditas como essenciais.” (ALBUQUERQUE JÚNIOR , 2012, p. 13). Além disso, pode-se caracterizar esse preconceito como “de marca”:

Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo grupo étnico para que sofra as consequências do preconceito, diz-se que é de origem. (NOGUEIRA, 2006, p. 292, grifos do autor).

Os bolivianos são considerados “Outros”, portanto, mais por sua fisionomia e sotaque e menos por uma diferença de costumes significativa em relação aos brasileiros.

Os bolivianos também são considerados “Outros” quando buscam por serviços públicos, como creches, escolas e postos de saúde. Uma vizinha dos bolivianos afirma que:

Eu acho que eles são tratados iguais à gente aqui. Porque vaga nas escolas eles arrumam. Pelo menos na sala dos meus filhos, dos dois, né. O pequeno tá na creche. A creche tem mais bolivianos do que brasileiro. O outro também tá na terceira série agora. Tem mais boliviano do que brasileiro. O que eu acho também que é um absurdo, que às vezes uma brasileira tem um filho, fica dois, três anos aguardando vaga numa creche e não consegue, né. (Vizinha brasileira, moradora do Brás)

Nessa fala é possível perceber que a escassez de vagas para creches faz com que as brasileiras reivindiquem prioridade sobre as bolivianas no preenchimento dessas mesmas vagas.

A gente vai nos hospitais aí, só tem boliviano, cheio. A gente quase não vê brasileiro aqui na (…) posto [de saúde]. Você vai aí só vê boliviano, boliviano, boliviano. (…) Eu acho que tinha que ter os hospitais pra nós brasileiros. Boliviano deve ir lá pra Bolívia. Tá cheio. E não é só boliviano não. Esses africanos aí também tá cheio, cheio, cheio. Esse povo que vem se refugiar aqui no Brasil. (Vizinha brasileira do Brás, há 07 meses no bairro)

O boliviano, ao competir por serviços sociais escassos oferecidos pelo governo, acaba sendo visto como o “Outro” responsável pelas longas esperas e pela má qualidade dos serviços. Ou seja, acaba se tornando um bode expiatório para a população que sofre com os serviços sociais de má qualidade.

O preconceito, em si, decorre do desconhecimento e da ignorância em relação ao “Outro”, e está no campo do julgamento. A discriminação, por sua vez, ocorre quando esse desconhecimento e ignorância se traduzem em uma ação, como um discurso de ódio ou um ato de violência contra esse “Outro”, no caso os imigrantes bolivianos.

Ao longo de uma pesquisa (PUCCI, 2011), deparou-se com várias formas de discriminação e estigmatização. Tome-se como exemplo a seguinte fala de um brasileiro entrevistado no bairro do Pari:

Eles ainda estão com aquelas origens das tribos indígenas que eles são. Os maias, né, origem dos maias. Das tribos, né. (…) povo de cultura indígena não tem o mesmo tipo de formação – acadêmica – do que nós – você, que talvez seja um estagiário, como eu que já me aposentei e trabalhei muito na minha vida. (Valdinês, Vizinho do Pari, aposentado).

Esse vizinho revela uma forma de racismo chamada de “novo racismo”:

[…] o “novo racismo” descreve diversos grupos a partir de suas particularidades culturais que os constituem como subconjuntos considerados inassimiláveis, perigosos e nocivos, prontos a espezinhar os valores morais da nação e a abusar dos sistemas que ela elaborou para assegurar a seus membros uma certa solidariedade. (WIEVIORKA, 2006, p. 169).

O “novo racista” afirma que os imigrantes seriam inassimiláveis, uma vez que suas origens indígenas seriam incompatíveis com os valores morais da nação. Esse vizinho revela um profundo desconhecimento da cultura boliviana, que descende dos povos incas e não maias, como afirma. Além disso, cria uma hierarquização, ao afirmar que os povos indígenas não possuem o mesmo tipo de formação educacional que os homens brancos, inferiorizando-os, portanto. A seguinte fala também revela a discriminação de que são alvo os bolivianos no bairro do Brás:

Porcos, muito porcos. Muito… E muito escravo. Eles são muito escravizados. Agente tem pena, mas infelizmente nós não podemos fazer nada porque eles estão prejudicando a gente. Mas eles são sem cultura. Eles não têm um mínimo de civilização. (Marcondes, Vizinho brasileiro do Brás, aposentado, há 30 anos no bairro).

Esse vizinho vai mais longe ao afirmar que os bolivianos não têm cultura nenhuma, bem como nenhuma civilização. Essa é uma visão etnocêntrica, pois adota a visão de que apenas nossos próprios valores são civilizados. A estigmatização, na realidade, é um instrumento usado para manter o poder de um grupo que vê o seu prestígio ameaçado em dada localidade. No caso dos antigos moradores dos bairros do Brás e do Pari, a chegada dos bolivianos fez com que eles sentissem uma degradação em seu bairro.

Os conflitos entre vizinhos brasileiros e imigrantes bolivianos estão imbuídos de uma identidade social, ou seja, as relações individuais se dão por categorias como Nós e Eles, Estabelecidos-Outsiders (ELIAS & SCOTSON, 2000).

Os “Estabelecidos” conquistaram a muito custo o sonho da casa e, agora, veem o seu projeto sofrer com um processo de degradação e decadência. Custa a eles aceitar que terão de dividir a vizinhança com imigrantes bolivianos.

(…)

Os “estabelecidos”, com a chegada dos migrantes, viram ameaçados seu estilo de vida e a sua identidade grupal (já bastante sedimentados). Por isso, passaram a se reivindicar como humanamente superiores e a estigmatizar os recém-chegados. Isso funciona como um mecanismo de defesa grupal, no qual o que se está defendendo é uma identidade coletiva, um estilo de vida, uma tradição. (PUCCI, 2016, p. 165-6).

Assim, a exclusão e a estigmatização dos outsiders pelo grupo estabelecido eram armas poderosas para que este último preservasse sua identidade e afirmasse sua superioridade, mantendo os outros firmemente em seu lugar. (ELIAS & SCOTSON, 2000, p. 22).

Os vizinhos “estabelecidos”, portanto, colocam a sua “indignação e protesto contra o fato de ser obrigado a suportar uma coabitação sentida como degradante, humilhante, com uma população degradada, desprezada, depreciada” (SAYAD, 2012, p. 36).

Goffman define o estigma como “um atributo profundamente depreciativo” (GOFFMAN, 2008, p. 13). No caso dos bolivianos, a diferença de fenótipo se torna um marcador cultural, fazendo com que sofram “estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família [ou de um grupo, como é o caso dos bolivianos].” (GOFFMAN, 2008, p. 14).

É interessante notar que a reação à estigmatização é diferente para cada boliviano:

A maioria dos brasileiros pensa que os bolivianos não sabem falar o português, porque a gente fica quieta, fica calada, então eles começam a falar em português e bem na cara da gente. Ah, que o boliviano isso, o boliviano aquilo. Que porque não está em seu país e que são porcos, que são bêbados, que são baixinhos, que são estranhos, que são moreninhos, então ai você pega, vai pegando as coisas, vai escutando. Antigamente eu não entendia, como eu mal fala o português e aturava, aguentava, hoje em dia não. Hoje em dia, quando eles estão começando, para eles não continuarem me magoando ou pra não chegar mais longe eu falo, “não, peraí, que estou aqui, não faça isso que estou te entendendo, então me respeite.” Se você não gosta de algum boliviano, pode falar de algum estrangeiro, mas não fala “os bolivianos”. (Maria, Boliviana, modelista, há 15 anos no país, moradora do Brás).

Maria reage quando é discriminada nas ruas. Ela prefere afirmar-se e dizer que está entendendo tudo do que fingir que não é com ela. A discriminação nas ruas costuma ocorrer por meio da impessoalidade e de generalizações com afirmações como “esses bolivianos”. É uma forma de racismo velado, que não se concretiza em uma discriminação direta contra uma pessoa em específico. Outros bolivianos reagem de forma diferente:

Na rua sempre existe um preconceito. Prefiro evitar. Falam mal de mim. Finjo que não escuto e às vezes quando vêm brigar comigo eu finjo que não entendo português. Então, ficam na deles. (Jairo, Boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

Jairo, como pode ser notado, é mais reservado e prefere não ser visto e nem notado. Em vez de reagir à discriminação que sofre, ele acaba interiorizando os estigmas do qual é alvo, e adotando o discurso do grupo favorecido contra os próprios compatriotas:

Francamente, eu não gosto deles [dos bolivianos]. Eu aqui, eu trabalho sendo boliviano. A Andréa gosta de mim porque eu entendo os bolivianos e entendo-a. Porém, não estou de acordo com a maioria dos bolivianos. Porque muitas vezes eles abusam da boa vontade dos brasileiros. E por esse motivo os brasileiros não gostam de ajudar eles. Por isso que eles falam mal deles. Eles abusaram. Os brasileiros deram uma mão e os bolivianos pegaram a mão inteira. E tem certas coisas que eu não gosto. Eu mesmo brigo com eles. Às vezes até um preconceito contra mim, eu falo “ah, esses bolivianos”. Eu sendo boliviano, eu tenho vergonha. (Jairo, Boliviano, estudante universitário, professor de informática e dono de uma oficina de costura).

A literatura já tratou sobre o assunto. Segundo BAENINGER & SIMAI (2010), os grupos estigmatizados internalizam o preconceito contra si mesmos e adotam o posicionamento do grupo dominante. Ainda segundo as autoras, de um ponto de vista psicológico, este fenômeno seria um caso de “auto-ódio”. A sua hipótese é a de que os imigrantes “podem sofrer de complexo de inferioridade tanto individual como coletivo” (BAENINGER & SIMAI, 2010, p. 18). (PUCCI, 2016, p. 153).

Portanto, “quanto mais poderoso o grupo a que se pertença, maior será o favoritismo intragrupo, ao passo que aqueles que pertencem aos grupos de menor poder demonstram mais tendências ao favoritismo fora do grupo.” (BAENINGER & SIMAI, 2010, p. 18).

Em pesquisa para dissertação de mestrado (PUCCI, 2016), também revelou-se que os bolivianos são alvo da chamada “discriminação imobiliária”:

Bom, se você quer alugar uma casa. Geralmente, aqui no Brasil, ou aluga uma casa para moradia ou aluga uma casa comercial. Ou é residencial ou é comercial. Mas nós bolivianos, que trabalhamos em casa, alugamos a casa para trabalhar e para morar. Ou seja, que muitas imobiliárias, [vamos dizer], a maioria, não aceita isso. A discriminação começa em que eles pedem fiador. E fiador, até para quem é brasileiro, está bem difícil aqui. Então, eles comecem por aí. É boliviano, tem que ter fiador. Agora, o boliviano, (…), de algumas imobiliárias, nós temos que dar um depósito. Às vezes de três meses ou de quatro meses de aluguel [adiantado]. Então nós trabalhamos bastante, o aluguel vale 2 mil reais, nós bancamos aluguéis e damos 8 mil reais. Ou seja, é uma garantia. Porque nós não conseguimos facilmente um fiador. Essa é a discriminação nas imobiliárias. (Rodriguez, boliviano, dono de um empreendimento no Brás, há 33 anos no país)

Segundo Rodriguez, a discriminação imobiliária ocorre porque os bolivianos possuem uma especificidade que é a conjugação trabalho-moradia. Além disso, as imobiliárias exigem fiador dos bolivianos. Estes, como não podem satisfazer essas exigências, acabam tendo que depositar três ou quatro meses de aluguel adiantado. Por fim, as imobiliárias não esperam que os bolivianos fiquem por muito tempo em solo brasileiro, o que faz com que não aceitem oferecer crédito imobiliário para aquisições em longo prazo, resultando em uma prática discriminatória para com todos os imigrantes.

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  1. Informação fornecida por Sidney A. da Silva em entrevista concedida a Pucci em São Paulo, dezembro de 2010.
  2. Informação fornecida por Sidney A. da Silva em entrevista concedida a Pucci em São Paulo, dezembro de 2010.
  3. Informação fornecida por Sidney A. da Silva em entrevista concedida a Pucci em São Paulo, dezembro de 2010.
  4. Parte dessas considerações foram publicadas pelos autores na revista Plural- Revista de Ciências Sociais-USP,  vol.24, no.2, 2017. Disponível em: < https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/143006/137866> Acesso em 26 fev. 2018
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